segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O TECIDO ESPAÇO -TEMPO DE EINSTEIN (I)


 A Teoria da Relatividade Geral de Einstein pretendeu subverter nossos conceitos de espaço e tempo, que julgávamos absolutos, transformando-os em relativos.
O espaço não mais seria aquele cenário inerte e isotrópico (igual em todas as direções), no qual se desenrolariam os fenômenos físicos, mas sofreria distorções em função da gravidade da matéria. Por isso, a luz das estrelas sofreria uma mudança de rumo ao passar pelo espaço contorcido pela gravidade solar.
O tempo, por sua vez, deixaria de ser aquele fluxo absolutamente constante, mas dependeria da velocidade dos corpos. Em função disso, foi apregoado o chamado "paradoxo dos gêmeos", pelo qual um astronauta, que viaje a uma velocidade próxima à da luz, teria seu tempo andando mais lentamente do que o tempo terrestre. Isso faria com que esse viajante, ao retornar, encontrasse seu irmão gêmeo mais velho do que ele.
Essas idéias abstrusas, para dizer o menos, tão contrárias à nossa percepção diária, precisariam de um embasamento filosófico e Einstein, atento a isso, resolveu filosofar no seu livro "Como vejo o mundo", editado pela Nova Fronteira. Nada a recriminá-lo por essa atitude, pois a Filosofia não tem reserva de domínio e é sempre louvável que um cientista faça suas incursões nesse campo, procurando fundamentos para sua própria ciência. Mas, ao contrário do que muitos dizem, o filosofar também pode estar certo ou errado, mesclado com inumeráveis "talvezes".
O físico alemão declara que nunca pôde aceitar a posição kantiana do a priori (noções fundamentais que seriam condições de possibilidade de todo o nosso conhecimento, antecedendo-o logicamente). Einstein comunga com os que sustentam a máxima (da escolástica medieval, por incrível que pareça!!) de que nada existe no intelecto que não seja por meio dos sentidos. Leibniz, muito sabiamente, acrescentou: a não ser o próprio intelecto, certamente entendendo por isso o modo de operar desse intelecto.
Resumidamente, Einstein afirma que primeiro nós conhecemos os objetos e formamos conceitos deles, sem necessidade alguma do conceito de espaço ou de relação espacial, o que só acontece depois. Segundo ele isto pode ser representado pelo esquema: objeto corporal — relações de objetos corporais — intervalo — espaço.
O primeiro engano do físico alemão é confundir conceitos acabados, exprimíveis por meio de algum tipo de linguagem, com noções primárias que pertencem à gênese do conhecimento. Uma metáfora vem a calhar: o bebê começa a enxergar o mundo por meio dos olhos, mas não tem sequer a menor consciência de que tem olhos. Ele simplesmente usa os olhos porque seu organismo é preparado para usá-los, sem necessidade de ninguém para ensiná-lo.
Assim também usamos, desde o princípio, a capacidade inata de "ver" os objetos espacialmente. Sem essa noção primária não conseguiríamos identificar objetos, até porque inexistem objetos que não estejam num ambiente espacial e não saberíamos separar o objeto do seu ambiente. Para que essa afirmação não passe, como tantas outras, de uma mera especulação retroativa à primeira infância, é de importância capital verificar o que acontece conosco, adultos e plenos de todos os conceitos acabados.
Normalmente identificamos os objetos mais facilmente pelas suas aparências, seus formatos e cores. Em se tratando porém de objetos iguais, com diferenças imperceptíveis para qualquer de nossos sentidos, como são duas esferas de aço, nós só sabemos que uma não é a outra porque uma está aqui e a outra ali. Então precisamos ter, a priori, a capacidade de perceber relações espaciais, caso contrário nunca teríamos idéia do que sejam aqui e ali. Seríamos como cegos de nascença em relação às cores.
Outra prova de que a noção de espaço é primária e antecede logicamente qualquer conhecimento físico está no fato de que o conceito de espaço, no rigor da palavra, não se define sem fazer recurso a ele mesmo. O dicionário Houaiss, por exemplo, diz:

espaço à extensão ideal, sem limites, que contém todas as extensões finitas e todos os corpos ou objetos existentes ou possíveis;
Mas registra:
extensão à dimensão de algo em qualquer direção;
E, por fim, revela:
 dimensão à extensão mensurável (em todos os sentidos) que determina a porção de espaço ocupada por um corpo.

Estamos pois num círculo vicioso e só podemos deduzir daí que a noção primária de espaço não é decorrente de nenhum raciocínio a posteriori. Em outras palavras, quem sabe o que é espaço, sabe, e quem não sabe nunca saberá.
Certamente precisamos ter diante de nós os objetos do mundo para que nos aflore a noção espacial, concomitantemente com a apreensão daqueles objetos. Isso, contudo, não significa, como quis Einstein, que o conhecimento dos objetos antecede a noção de espaço e isto é muito fácil de entender se pensamos nos nossos computadores. Os comandos que lhes damos são necessários para que os programas preexistentes nele passem a atuar. Os programas antecedem pois aos nossos comandos, assim como a noção espacial inata antecede logicamente a nossa percepção dos objetos.
Outro erro teórico de Einstein foi conceber o espaço como algo material, capaz de influir no comportamento dos objetos. Não podemos colocar um piano numa mala de viagem não porque o espaço dentro dela nos impeça, oferecendo por si mesmo qualquer tipo de resistência, mas porque o espaço disponível é insuficiente e esbarramos no princípio físico de que dois sólidos não podem ocupar simultaneamente o mesmo lugar. São os elementos materiais constitutivos da mala que não permitem a presença do piano no seu interior.
O nosso conceito geral de espaço é de algo certamente real, sem dúvida, mas não material. É algo totalmente sem massa e portanto imune a qualquer atração gravitacional. Se a luz das estrelas muda de rumo ao passar nas proximidades do Sol, isto não se deve seguramente a nenhuma contorção do espaço, mas seria antes uma prova definitiva de que a luz tem um componente material, com uma certa massa, por mínima que seja. A luz é que é atraída pelo Sol, mudando de curso, e não o espaço!!
Voltaremos ao assunto, discutindo a questão do tempo.



Autor: Renato Benevides